Uma Experiência Transformadora

Uma das melhores reações que obtenho nas minhas andanças rotárias acontece quando menciono o fato de ter vindo das fileiras do Intercâmbio de Jovens. Na realidade, não fiz o comum na época, da aplicação das regras aos bolsistas da Fundação Rotária como extensivas ao Intercâmbio de Jovens.

Não desisti. Registrei-me no AFS, onde consegui a aprovação. Abandonei a segura carreira militar para aventurar-me no programa. Viajei para a cidade de White Bear Lake, em Minnesota, nos Estados Unidos, num evidente contraste com o tropical Brasil. Um lugar gélido, mas de pessoas com coração cálido. Lá, tive a oportunidade de falar

A inúmeros clubes de serviço e fui “adotado” pela escola e pela comunidade locais. Ao saberem da minha conexão na minha cidade natal, os clubes de Rotary me acolheram como estudante do Intercâmbio de Jovens do Rotary.

Quando retornei ao Brasil, após a formatura na Fundação Getúlio Vargas fui convidado e ingressei no clube do meu pai, para substituí-lo na classificação profissional, gráfica. Lembro-me do livro O Primeiro Dia do Resto da Nossa Vida, uma comédia romântica. O título poderia ilustrar a experiência de um inter- cambista do Rotary e sua evolução após retornar ao seu país.

INVESTIMENTO PARA A VIDA

Minha história pode ser igual ou diferente das mais de 500 mil histórias de jovens que foram beneficiados por programas do Rotary em tempos recentes.

Num banco de dados na sede da nossa organização, acumulam-se nomes de intercambistas, rotaractianos, interactianos, bolsistas da Fundação Rotária (dentre os quais Ray Klinginsmith, primeiro presidente do Rotary International provindo de programas de jovens, enquanto sou o primeiro oriundo do intercâmbio a alcançar esse cargo) e jovens que participaram do Ryla, os Prêmios Rotários de Liderança Juvenil, voltados à abertura de horizontes profissionais.

A experiência foi transformadora. Jamais veria o mundo da mesma forma. E o aprendizado da língua inglesa foi a menor das conquistas, abrindo meu caminho para o alemão, o francês, o espanhol e, mais recentemente, o italiano.

O intercâmbio é um investimento para a vida, cujos retornos acontecem ao longo de meio século ou mais. Equivale a uma caderneta de poupança, rendendo frutos permanentes, sem risco de congelamento ou apropriação por parte de agentes externos.

O que seu cérebro acumula em conhecimento, vivência e relacionamentos significa patrimônio protegido de fatores exógenos. É invendável, intransferível, inatacável. 

Essa é a experiência que o intercâmbio proporciona aos jovens. Numa idade propícia, com conceitos em formação e evolução, sem a calcificação das ideias que permeiam idades mais avançadas.

Tive debates e discussões formadoras durante meu ano no intercâmbio. Comecei a compreender que o mesmo fato pode ser visto de ângulos distintos e que a verdade depende da sua ótica.

É mais subjetiva do que objetiva e o mero conhecimento dessa limitação for- mata um pensamento mais amplo, diverso, aberto às controvérsias, à empatia. Quando meus pais e eu concordávamos, eles diziam it is the same in Portuguese [“é o mesmo em português”, em tradução livre], uma frase para sumarizar a obtenção do consenso, ou da aceitação de conceitos originalmente diversos, quando não opostos.

Essa visão multifacetada dos problemas me ajudou na carreira profissional, empresarial e, também, nos afazeres rotários. No fim do dia, seres humanos da Palestina e de Israel, da Ucrânia e da Rússia, do Brasil e dos Estados Unidos querem as mesmas coisas, em essência: uma casa, um emprego honesto, boa escola, segurança para a família, comida na mesa, lugar para se divertir e orar.

Cheguei à conclusão óbvia: tínhamos mais pontos de convergência do que de divergência. Assuntos que hoje polarizam os debates, discursos ideológicos que servem mais aos atores do que à plateia, são vistos pela ótica de quem experimentou a diversidade de opiniões há 50 anos. 

Essa foi a maior lição do intercâmbio: visões distintas sobre problemas enriquecem o debate, amadurecem as opiniões, testam nossas “verdades”, aprimoram-nos como seres humanos.

Precisamos de mais intercambistas, rotaractianos, interactianos e bolsistas no mundo. E que migrem com ideias de mudança para o Rotary. Mudança que vem de dentro, como afirmou o escritor Kamal Ravikant: “A vida é de dentro para fora. Quando você muda por dentro, a vida muda por fora”.

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